terça-feira, 22 de maio de 2012

O meu, o seu, o nosso mar.

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Chovia. Esfriava lentamente. A minha vontade de estar com você aumenta velozmente, me fazendo acreditar que nem as gotas de orvalho existentes na terra seriam capazes de conter a chama que havia se acendido dentro de mim ao me deparar com sua magreza, e sua barbicha de sempre na porta. Olhava o relógio e passava a mão no cabelo. Não sei o que pensava, mas parecia despreocupado e deveria estar pensando se amanhã daria para trafegar numa cidade tão alagada, e ministrar suas aulas de Filosofia na Universidade. Tirou os óculos e passou os olhos na luz da lâmpada. Sua pupila dilatou assim como a minha vontade de me deparar com seu olhar de sempre. O olhar mais inexpressivo, porém o mais cativante do mundo inteiro. Era doce. Era misterioso. Era o seu olhar. 

Como a chuva muda tudo. Não entendia a razão de estar paralisada defronte a televisão olhando para o nada. De repente me olhou com o mesmo mistério de sempre. Seu mistério é o que me deixa inexpressivo, a ponto de não querer falar nada a respeito de nada. Gostaria de saber o que pensas quando coloca a mão no queixo. Parei e me peguei pensando na maneira de como ir dar aula amanhã nessa cidade que, com certeza, irá alagar e, inesperadamente, me deparei com seu olhar. O olhar mais sedutor na face da terra, o olhar que me prende e me deixa aqui. Sou escravo dos seus olhos. Da sua pele macia e diferente. Sou escravo desse sentimento e não costumo demonstrar, e particularmente, espero que isso não aconteça. Seu corpo me chama, mas não sei se devo. Cada gota de chuva que passa, sinto que eu me torno uma gota no oceano em um dia de mar em fúria. Você é o oceano em fúria e eu, um simples gota que se junta em outra e, pouco a pouco, vai formando uma onda. Quero ser a onda que vai encontrar a sua, e quando encontrarmos o êxtase, eu não importarei com o amanhã se você conseguir acalmar o meu mar nesse hoje tão chuvoso. 

Eles se olharam novamente, porém nenhum dos dois sorriu. Ela chegou perto dele e ele colocou suas mãos em sua cintura. Olhou para os olhos que te escravizavam sempre. Ela sorriu de canto e continuou olhando para ele. Ela tirou seus óculos do rosto e beijou-lhe a testa. Já ele sem esperar beijou-lhe o pescoço, pois sabia que era ali que a correnteza começaria a deixar o mar agitado. Já aquele beijo morninho que aos poucos iria esquentando, faria com que aos poucos, seu mar começasse a dançar. Ele sorria quando ela resolveu olha-lo de novo. Ele passou a mão direita em seus cabelos e a esquerda na bochecha dela fazendo com que ela corasse. Ela pegou as mãos deles e passou pousou em seu rosto. Ele a beijou e beijou por longos dez minutos.
Não lembro como foi, mas foi como estar no mar. No mar de ilusões, ou talvez, de realidades. Ondas subiam, ondas desciam. O barulho passou a impregnar todo local. Não havia um lugar em silêncio, que em certos momentos, o som subia e descia. As mãos firmes dele me guiavam para o mais perigoso lugar daquele mar. Mesmo assim, no meu desejo, eu seguia sem medo do que me esperava. A cada onda que quebrava, minhas mãos se seguravam em suas costas. As minhas pernas se abriam e levantava como num ballet que esperavam a onda mais forte. A onda que me levasse para a realidade. Para a onda que me faria gritar de êxtase ali. 
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Eu era a onda que ela esperava que a levasse para qualquer lugar que fosse. Seus cabelos me faziam querer dar impulsos mais fortes.  Eu queria que ela fosse onda também, para que assim, nos encontrássemos de vez. Aos poucos, ela foi cedendo e me seguindo naquele mar acolchoado. As nossas ondas iam e vinham como num mar agitado que esperava a hora do colapso para voltar ao normal. Para aquele momento em que as ondas se cansam de dançar, e inesperadamente, o mar volta ao normal e fica quieto e sereno até que num momento qualquer volte a dançar novamente. O mar agitou, as ondas dançaram. Subiram, desceram e cantaram. Quanto mais alto cantavam, mais fortes se batiam, se juntavam, se encontravam de novo. De repente, no meio de tanto barulho e agitação, a explosão de exaustão. O mar pediu um tempo, já tinha feito demais. E nós, exaustos, nos abraçamos sem pensar no amanhã e daquela noite, os minutos finais.