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Chovia. Esfriava lentamente. A minha
vontade de estar com você aumenta velozmente, me fazendo acreditar que nem as
gotas de orvalho existentes na terra seriam capazes de conter a chama que havia
se acendido dentro de mim ao me deparar com sua magreza, e sua barbicha de
sempre na porta. Olhava o relógio e passava a mão no cabelo. Não sei o que
pensava, mas parecia despreocupado e deveria estar pensando se amanhã daria
para trafegar numa cidade tão alagada, e ministrar suas aulas de Filosofia na
Universidade. Tirou os óculos e passou os olhos na luz da lâmpada. Sua pupila
dilatou assim como a minha vontade de me deparar com seu olhar de sempre. O
olhar mais inexpressivo, porém o mais cativante do mundo inteiro. Era doce. Era
misterioso. Era o seu olhar.
Como a chuva muda tudo. Não entendia a
razão de estar paralisada defronte a televisão olhando para o nada. De repente
me olhou com o mesmo mistério de sempre. Seu mistério é o que me deixa
inexpressivo, a ponto de não querer falar nada a respeito de nada. Gostaria de
saber o que pensas quando coloca a mão no queixo. Parei e me peguei pensando na
maneira de como ir dar aula amanhã nessa cidade que, com certeza, irá alagar e,
inesperadamente, me deparei com seu olhar. O olhar mais sedutor na face da
terra, o olhar que me prende e me deixa aqui. Sou escravo dos seus olhos. Da
sua pele macia e diferente. Sou escravo desse sentimento e não costumo
demonstrar, e particularmente, espero que isso não aconteça. Seu corpo me
chama, mas não sei se devo. Cada gota de chuva que passa, sinto que eu me torno
uma gota no oceano em um dia de mar em fúria. Você é o oceano
em fúria e eu, um simples gota que se junta em outra e, pouco a
pouco, vai formando uma onda. Quero ser a onda que vai encontrar a sua, e
quando encontrarmos o êxtase, eu não importarei com o amanhã se você conseguir
acalmar o meu mar nesse hoje tão chuvoso.
Eles
se olharam novamente, porém nenhum dos dois sorriu. Ela chegou perto dele e ele
colocou suas mãos em sua cintura. Olhou para os olhos que te escravizavam
sempre. Ela sorriu de canto e continuou olhando para ele. Ela tirou seus óculos
do rosto e beijou-lhe a testa. Já ele sem esperar beijou-lhe o pescoço, pois
sabia que era ali que a correnteza começaria a deixar o mar agitado. Já aquele
beijo morninho que aos poucos iria esquentando, faria com que aos poucos, seu
mar começasse a dançar. Ele sorria quando ela resolveu olha-lo de novo. Ele
passou a mão direita em seus cabelos e a esquerda na bochecha dela fazendo com
que ela corasse. Ela pegou as mãos deles e passou pousou em seu rosto. Ele a
beijou e beijou por longos dez minutos.
Não lembro como foi, mas foi como estar no
mar. No mar de ilusões, ou talvez, de realidades. Ondas subiam, ondas desciam.
O barulho passou a impregnar todo local. Não havia um lugar em silêncio, que em
certos momentos, o som subia e descia. As mãos firmes dele me guiavam para o
mais perigoso lugar daquele mar. Mesmo assim, no meu desejo, eu seguia sem medo
do que me esperava. A cada onda que quebrava, minhas mãos se seguravam em suas
costas. As minhas pernas se abriam e levantava como num ballet que
esperavam a onda mais forte. A onda que me levasse para a realidade. Para a onda
que me faria gritar de êxtase ali.
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Eu era a onda que ela esperava que a
levasse para qualquer lugar que fosse. Seus cabelos me faziam querer
dar impulsos mais fortes. Eu queria que ela fosse onda também, para
que assim, nos encontrássemos de vez. Aos poucos, ela foi cedendo e me seguindo
naquele mar acolchoado. As nossas ondas iam e vinham como num mar agitado que
esperava a hora do colapso para voltar ao normal. Para aquele momento em que as
ondas se cansam de dançar, e inesperadamente, o mar volta ao normal e
fica quieto e sereno até que num momento qualquer volte a dançar novamente. O
mar agitou, as ondas dançaram. Subiram, desceram e cantaram. Quanto mais alto
cantavam, mais fortes se batiam, se juntavam, se encontravam de novo. De
repente, no meio de tanto barulho e agitação, a explosão de exaustão. O mar
pediu um tempo, já tinha feito demais. E nós, exaustos, nos abraçamos sem
pensar no amanhã e daquela noite, os minutos finais.