sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Hoje no Circo tem

Todo Circo tem seu final de espetáculo: as luzes se apagam, as cortinas se fecham, a plateia desce e as risadas se sessam. Artistas de volta para o picadeiro da dor e da solidão ao som do jazz que já não segura a verdade escondida e aos goles da bebida que não curam as feridas. As lágrimas dos palhaços que vem no colorido do circo montado uma razão para querer voltar no passado e desistir da ideia de ser artista de Circo. Como praguejam um dia ter visto as cores da vida nas cores do circo.
- É, Zé. Vida de circo é vida de condenado. 
Há sempre o esperançoso. 
- Que isso, João. Há muito mais cor na metafisica do atuar, do entreter, do sorrir e do fazer.
- Guarde sua metafísica, meu caro. Os tempos mudaram e as crianças são outras. Pagam uma fortuna para ver os espetáculos de Circos famosos, mas ao passarem por um simples local como o de um circo como esse nas ruas, sentem nojo e até riem de nossas condições externas. Olhe para nós? O que somos? Desgraçados lutando por miseras piadas, piadas que já não trazem alegria ao lar de ninguém. As pessoas que vem até nós, vem por falta de opção, meu caro. Não estão aqui para se satisfazer com a alegria de um circo, mas por não ter opção nessa cidade de miseráveis. Acho que até um circo de horrores faria mais sucesso que esse pocilga. Ninguém quer circos. A vida é diariamente um circo na vida  de qualquer um.
- Meu amigo, falas isso por estar bêbado!
- Não. Falo por que um dia larguei minha vida de moleque do interior que até tinha a possibilidade de ir estudar para ser doutor para me aventurar de cidade em cidade ao som e as cores do Circo que um dia trouxe muita alegria para muita gente. Veja só? O que somos? Pobres miseráveis. Vagabundos para muitos. Maus exemplos. 
- João, falas de uma forma que me deixa assustado.
- Zé, falo apenas a verdade. As pessoas vivem o que vivemos. Tentam rir para esconder a tristeza, usam maquiagem para esconder a dor e tentam fazer das palavras piadas para afastar a solidão e o desespero. Elas pensam que é como um circo, mas nem o circo é feito apenas de alegria. É feito com tudo que a vida pode transbordar em cima de nós. Assim é a vida, Zé. Diariamente, ela transborda tudo que a gente pode viver, mas que nós não podemos segurar. É colorida, risonha, banal e tristonha. Essa é a vida. Vida de Circo, vida vivida. 
Zé engoliu aquelas palavras e foi para fora pensar. Sentando numa pedra em alguma praça daquela cidade que não sabia o nome, se perguntava:
Que sentindo sua vida teria se não fosse assim?
Olhou para os lados, olhou para o céu. Viu estrelas e teve a certeza que não poderia voltar e continuar mentindo para si mesmo só trazia mais dor e angustia. Percebeu que a vida que sonhara tinha ficado no começo da vida que vivia e que não poderia fazer mais nada até o fim de seus dias. Era um miserável do circo, era um miserável da vida. Machucava pensar que não teria outra saída, mas machucava mais ter mentido por tanto tempo na sua vida e forjado por tantos anos de sua vida um sorriso sem significado e uma risada sem harmonia. 

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