terça-feira, 22 de maio de 2012

O meu, o seu, o nosso mar.

Foto publicitária
Chovia. Esfriava lentamente. A minha vontade de estar com você aumenta velozmente, me fazendo acreditar que nem as gotas de orvalho existentes na terra seriam capazes de conter a chama que havia se acendido dentro de mim ao me deparar com sua magreza, e sua barbicha de sempre na porta. Olhava o relógio e passava a mão no cabelo. Não sei o que pensava, mas parecia despreocupado e deveria estar pensando se amanhã daria para trafegar numa cidade tão alagada, e ministrar suas aulas de Filosofia na Universidade. Tirou os óculos e passou os olhos na luz da lâmpada. Sua pupila dilatou assim como a minha vontade de me deparar com seu olhar de sempre. O olhar mais inexpressivo, porém o mais cativante do mundo inteiro. Era doce. Era misterioso. Era o seu olhar. 

Como a chuva muda tudo. Não entendia a razão de estar paralisada defronte a televisão olhando para o nada. De repente me olhou com o mesmo mistério de sempre. Seu mistério é o que me deixa inexpressivo, a ponto de não querer falar nada a respeito de nada. Gostaria de saber o que pensas quando coloca a mão no queixo. Parei e me peguei pensando na maneira de como ir dar aula amanhã nessa cidade que, com certeza, irá alagar e, inesperadamente, me deparei com seu olhar. O olhar mais sedutor na face da terra, o olhar que me prende e me deixa aqui. Sou escravo dos seus olhos. Da sua pele macia e diferente. Sou escravo desse sentimento e não costumo demonstrar, e particularmente, espero que isso não aconteça. Seu corpo me chama, mas não sei se devo. Cada gota de chuva que passa, sinto que eu me torno uma gota no oceano em um dia de mar em fúria. Você é o oceano em fúria e eu, um simples gota que se junta em outra e, pouco a pouco, vai formando uma onda. Quero ser a onda que vai encontrar a sua, e quando encontrarmos o êxtase, eu não importarei com o amanhã se você conseguir acalmar o meu mar nesse hoje tão chuvoso. 

Eles se olharam novamente, porém nenhum dos dois sorriu. Ela chegou perto dele e ele colocou suas mãos em sua cintura. Olhou para os olhos que te escravizavam sempre. Ela sorriu de canto e continuou olhando para ele. Ela tirou seus óculos do rosto e beijou-lhe a testa. Já ele sem esperar beijou-lhe o pescoço, pois sabia que era ali que a correnteza começaria a deixar o mar agitado. Já aquele beijo morninho que aos poucos iria esquentando, faria com que aos poucos, seu mar começasse a dançar. Ele sorria quando ela resolveu olha-lo de novo. Ele passou a mão direita em seus cabelos e a esquerda na bochecha dela fazendo com que ela corasse. Ela pegou as mãos deles e passou pousou em seu rosto. Ele a beijou e beijou por longos dez minutos.
Não lembro como foi, mas foi como estar no mar. No mar de ilusões, ou talvez, de realidades. Ondas subiam, ondas desciam. O barulho passou a impregnar todo local. Não havia um lugar em silêncio, que em certos momentos, o som subia e descia. As mãos firmes dele me guiavam para o mais perigoso lugar daquele mar. Mesmo assim, no meu desejo, eu seguia sem medo do que me esperava. A cada onda que quebrava, minhas mãos se seguravam em suas costas. As minhas pernas se abriam e levantava como num ballet que esperavam a onda mais forte. A onda que me levasse para a realidade. Para a onda que me faria gritar de êxtase ali. 
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Eu era a onda que ela esperava que a levasse para qualquer lugar que fosse. Seus cabelos me faziam querer dar impulsos mais fortes.  Eu queria que ela fosse onda também, para que assim, nos encontrássemos de vez. Aos poucos, ela foi cedendo e me seguindo naquele mar acolchoado. As nossas ondas iam e vinham como num mar agitado que esperava a hora do colapso para voltar ao normal. Para aquele momento em que as ondas se cansam de dançar, e inesperadamente, o mar volta ao normal e fica quieto e sereno até que num momento qualquer volte a dançar novamente. O mar agitou, as ondas dançaram. Subiram, desceram e cantaram. Quanto mais alto cantavam, mais fortes se batiam, se juntavam, se encontravam de novo. De repente, no meio de tanto barulho e agitação, a explosão de exaustão. O mar pediu um tempo, já tinha feito demais. E nós, exaustos, nos abraçamos sem pensar no amanhã e daquela noite, os minutos finais. 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Até mais.

Via Tumblr

- Eu não sei o que irei fazer da vida. 
Danilo diz isso a Magnólia e sorri. Perplexa ela olha para ele e fica confusa.
- Nunca parou para pensar que suas atitudes hoje demonstram seu amanhã?
- Vish! Você é adepta dos clichês? Se for assim, vou embora, hein...
- Eu não sou. Apenas disse uma verdade. Mas tudo bem. (Risos). Pode ir. Sei me virá sozinha.
Danilo olha para Magnólia e se depara com um sorriso muito misterioso e bonito no rosto da garota de vinte anos a sua frente. 
- É assim que responde os novos amigos? 
- É ASSIM que eu respondo quem eu quiser.
Dez segundos de silêncios e dois caíram na risada. Não se conheciam direito, mas sabiam que a amizade duraria muito tempo.
- E então? Esse jogo de dama sai ou sai? Eu me desloquei do meu prédio para cá só para isso. Mag Mag Mag.... ♪
- Por que está me chamando de Mag? 
- Seus amigos te chamam assim, não? 
- Sim, chamam. Mas meus amigos mais ousados. Odeio esse apelido.
- Então se acostume. Vou te chamar assim sempre. A não ser que eu esteja bravo demais com você e ao invés de falar Magnólia demonstre minha fúria de leão.
Magnólia piscou por um segundo e caiu no chão de tanto rir. Magnólia poderia até ficar brava, mas medo dele ela não tinha. Na verdade, não tinha medo de ninguém. 
- Ah tá. Vai leãozinho. Demonstra. Você não sabe do que eu sou capaz. 
Por um minuto Danilo pensou e disse para si mesmo: "Eu realmente não sei, mas gostaria de saber." Sorriu e se sentou na grama do lugar próprio para lazer na cidade que viviam.
- Eu não vou sentar na grama. Ela me deixa com coceira. Levante-se, por favor. Eu trouxe uma toalha. 
- Trouxe comida também? Tô morto de fome. 
- Eu não! Você não almoça esperando que eu traga uma cesta de piquenique! Eu disse que iria trazer apenas a dama. Agora se vire aê.
- Ai ai ai! Vou ali comprar algo. Quer alguma coisa, senhorita? 
- Não, obrigada. Se eu quiser, compro água mais tarde. 
- Então tá.
Horas se passaram e os dois não desistiam do desempate.
- Eu sempre fui boa nisso. Como assim eu estou empatada com você?
- Eu disse que não era tão bom e você caiu. Mas não entendo como eu estou empatado?
- Lá vem...
- Lá vem o que, velho? 
- Esse jogo é a maior treta da terra. Tem algo errado aqui.
- Como errado? Só tem a gente aqui. As pessoas estão se agarrando. Trasando no mato enquanto a noite surge, mas estamos jogando essa miséria aqui que não saiu do 4 a 4. 
Se fosse outra pessoa olharia com uma cara assustada ou sairia gritando, mas Mag riu e continuou rindo quando se deparou com sua vitória.
- Oops. Venci.
- Que? Isso não pode estar acontecendo. Que merda. É treta.
- Treta na casa da mãe...
- Deixa minha mãe quieta, rapaz.
- Sou uma moça, cara. E o mato é logo ali.
Mag fez com cara de malícia e Danilo começou a rir um tanto nervoso. Mas logo percebeu que era apenas uma brincadeira. 
- É, né. Vamos antes que os mosquitos apareçam. 
- O que as pessoas vão pensar? Que somos...
- Loucos ou pervertidos, mas acho melhor que fiquem achando que somos loucos, porque se passar uma menina linda por aqui e ouvir isso, adeus chances. 
- Ah é? Espera... HEY, HEY, ESSE MENINO AQUI TÁ QUERENDO...
Antes que ela falasse algo, ele a puxou para o chão de volta e segurou sua boca.
- Meu, eu sabia que você era doida, mas fazer isso...Tá querendo morrer? 
- Não, mas estou mostrando que aqui, querido, a coisa não tá fácil.
Riram de novo. Fizeram isso toda tarde.
[...]
- Anoiteceu. Acho melhor eu ir.
- Você é uma menina, por acaso?
- Não curto ninguém... (suspirou)...implicando quando eu chego.
Danilo fez cara de desapontamento, mas entendeu.
- Eu te acompanho até o ponto. Onde você mora?
- Lá na Eco vila. E você?
- No canteiro.... é perto para dizer o contrário.. Ou seja, ponto contrário.
Começou a rir do nada.
- Eu....me diverti. Muito. Espero que a gente possa fazer mais.... (pensou e não sabia o que dizer)
- Fazer essas coisas idiotas que nos deixam mais vivos. Eu sei. Até mais, então.
- Até. Até. (Mag sorria)
Se olharam e foram para lados opostos. Cada uma morava do outra lado da cidade e a viagem seria um tanto chata. A partir daquela tarde, sabiam que seriam assim até quando um dos dois cedesse ao que os dois já sentiam desde o 'é treta'. Mal sabiam que a treta na verdade era o que eles estavam fazendo com o coração negando o que já passava a existir.

quinta-feira, 8 de março de 2012

A carta que ela nunca mandou.

Eis que revisto a minha caixinha de lembranças dos anos vividos por mim com muita timidez e alegria. 5 anos de casamento. Há 5 anos me mudei para a casa do meu namorado e ex-colega de faculdade, Rodrigo. É engraçado. Lembro dele com aquelas conversinhas de quem não quer nada. Foi hilário na época. Era tão tímida e de repente estava frente a frente com alguém que não imaginava um dia ter ao meu lado, não por me achar feia ou coisa do tipo, mas por medo. Medo de ser feliz. Ele, mais velho que eu dois anos, sempre foi espontâneo. Divertido, sincero, inteligente e amigo. Não. Não tem nada de romântico, por mais que tente ser. Já desistimos dessa ideia. Vamos ficar no companheirismo e no sexo, que por sinal juntos fazemos muito bem. Ele é diferente de todos que já vi, acho que por isso que eu o amo. Ele nunca veio com palavras doces e promessas, ao contrário. Veio com a verdade. Disse como era e o que queria. Nessa época criamos uma amizade que andava lentamente. A gente parecia não ter nada a ver, mas tínhamos muito. Bandas, livros e opiniões divergiam, mas quando a gente se deparava com algo, eramos iguais e nisso a gente tinha sempre uma história bem parecida para contar. Eu gostava dele. Tinha uma quedinha das grandes, sabe? Mas acho que a amizade foi maior, principalmente quando ele me viu pela primeira vez e chorando. Ele não recuou como imaginei que seria. Ele se sentou ao meu lado e me abraçou demonstrando que iria passar, que ficaria bem. Ele dizia que não me entendia, mas entendia melhor do que ninguém. Eu queria contar meu sentimento. Não queria ser amiga, mas vi no momento não queria perder o amigo. No meu desespero em plena amizade, escrevi uma carta que não enderecei. Guardei na minha caixa e só agora abri para demonstrar que eu ainda era insegura e que as coisas talvez não fossem tão boas como são hoje. Vou ler para ele. Ele não acredita que eu fiz isso. Que eu escrevi uma carta, coisa que ninguém mais faz hoje em dia. Ele está sorrindo. Acho que teria gostado da ideia na época.

Rodrigo,

Você surgiu de repente na minha timeline. Achei bonito. Achei legal o que você escrevia. Achei interessante o que você tinha a dizer. Você é engraçado e acho que as pessoas só permanecem na minha vida quando elas me fazem rir. Caso contrário, eu as deixo partir. Péssima mania. Você diz que não se acha engraçado, se acha feio, se acha sem graça. Engraçado. Eu te acho bem bonito do jeito que você é, mas suas qualidades, mesmo que os defeitos sejam barra pesada, te engradecem. Você é tão diferente. Não tem conversa mole, você é especial. Pena que não me veja dessa forma. É difícil dizer algo para você. Você me deixa ansiosa, com vontade de viver mais a vida. De fazer alguma loucura. Você me deixa com vontade de ser feliz. Eu não sei a razão, eu tento ser legal para que você me note, mas parece que não vai sair disso. Fico meio triste, mas ao mesmo tempo feliz, porque você nunca me prometeu nada. Gosto dos seus conselhos, gosto como você vê as coisas e as explica. Gosto como você não faz questão de agradar e como não esconde o que pensa. Podem te odiar, mas eu, por incrível que pareça, gosto de você. Não sei como, mas é de um jeito diferente. De um jeito que eu não me sinto ansiosa, insegura ou com medo. Eu me sinto tão eu. Eu tenho coragem para dizer o que sinto, se gosto ou não, mas não estou tendo coragem para dizer o que sinto por você. Eu queria te dizer: "- Vai, me beija." Mas não é tão simples assim. As coisas não são como elas querem ser. São como são e acho que entre a gente não vai ser diferente. A amizade aparenta crescer e o sentimento diminuir. Gostaria que você encontrasse alguém legal, que te ame e te faça bem. Gostaria que essa pessoa fosse eu, mas acho que você não pensa assim. Seja lá o que você quer, espero que encontre. Espero que dê tudo certo para você e que você fique mais feliz do que já é. E rico para viajar e curti a vida como você almeja. Eu tinha que te dizer, mas não sabia como começar. Agora já disse. Se quiser me excluir da sua vida, tudo bem. Eu faço isso com muita gente o tempo todo, mas estarei com minha consciência limpa, pois tentei. Seja feliz, meu querido. Boa sorte na sua vida. 

Beijos e se cuida,

Amanda.



Sabe, Amanda. Eu achei você legal, louca, mas legal de início. Sabia que você não era mais uma. Fico feliz que tenha ficado bem bêbada na festa da Marília, que tenha me beijado de uma forma avassaladora e que tenha me dito exatamente o que tem ai. Uma carta seria legal, mas atitude foi o que contou. Lembro que você vomitou, tomou um café, dormiu, acordou, lavou o rosto e veio falar comigo com esses olhinhos perigosos. Que olhos. Olhou para mim e disse que estava tudo bem se eu não quisesse olhar mais na sua cara. Foi ai que eu quis mais, mais e mais. O que não era para existir acabou acontecendo e depois de sete anos, resolvemos nos unir.Eu te achava maluca, complicada, mas vi que com você iria além. Obrigada por me contar. Obrigada por insistir. Estava achando que o mundo me deixaria sozinho nessa. Eu não sei a razão, mas eu acabei me apaixonando por você e quando vi que não poderia ter mais você em minha vida, vi que te amava. Eu te amo, talvez seja essa o problema e a razão. Não sei se vai durar para sempre, mas espero apenas que dure. Amanda, ainda bem que você está aqui.
[...] 

Ele sorriu e se aproximou. Ele me beijou, como fazia todos os dias. Ele me beijou como se fosse a primeira e a última vez. Assim a gente vivia. Assim a gente foi construindo um sentimento. Assim a gente foi construindo o amor. Ainda bem que não mandei a carta. Ainda bem que no meio da minha loucura resolvi dizer. Transformei o sentimento não existente dele em algo concreto e aqui estamos sentados na nossa cama sorrindo um para o outro como se fosse o começo e o fim da nossa história. 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Livre.

Foto retirada do devianArt
Enjoos. Uma dor de repente surgiu dentro de mim. Parecia querer me matar. Achava que fosse morrer. Não aguentava, queria correr. Sumir. Por favor, alguém me mate. Ah, meu coração. Batia tão rápido que por alguns minutos achava que iria infartar. Corri para meu quarto. Tudo girava, tudo ficava escuro. De repente, as lembranças. As lembranças da infância. Como eram doces e divertidas. Árvores e balanços. Músicas da época e seus encantos. Um pula-pula na janela e banhos de mangueiras. Bolada na cara., lama nas pernas e suor no corpo. Todo mundo era igual. Era um chute na bola, chute na perna, um choro aqui, depois estava tudo bem. Sorri por alguns minutos. Como era bom recordar mesmo com as britas que estavam espalhadas nas casas em reforma com os pés descalços, mesmo com as quedas que abriram joelhos e arranharam braços e pernas, mesmo com os galos na testa, mesmo com as palavras que machucavam. 


De repente, uma escuridão. Minha adolescência. Expectativa de uma começo mágico. Mas magia talvez seja coisa de livros e filme, a vida da gente não combina com magia, combina apenas com a realidade. A realidade era doce, mas muitas vezes insistia em ser azeda ou amarga diariamente. Percebi naquela época que eu tinha que correr atrás da felicidade, pois na minha porta ela com certeza não iria bater. Tinha gente que precisava mais que eu, porém o medo sempre foi meu inimigo. Ele me afastava das pessoas. Ele me fazia agir de uma forma que muitas vezes eu não queria. O medo me tornou um ser misterioso que afastava as pessoas ao invés de aproximar. Quantas luzes eu não vi, quantas festas eu perdi, quantas paqueras eu não tive, quantas amores eu desperdicei? Lembro dos momentos ruins. Eles ocuparam minha fase adolescente praticamente toda, porém enquanto lembrava de toda carga negativa sorri, pois também vivi momentos bons, foram poucos, mas me fizeram sentir o que era felicidade. Lembro de ter rido, lembro de ter abraçado, lembro de chegar em casa me sentindo em paz. 


Chorei. A dor aumentava e nada eu podia fazer. Sentei em minha cama. Coloquei as mãos frias no peito esquerdo para sentir meu coração naqueles momentos que pareciam os últimos da minha vida. Batia fraco, cansado, não aguentava mais. As lagrimas cessaram. A dor de repente parou. Respirei e fechei os olhos. A dor voltou como uma espada no meio do coração. Senti a dor lentamente rasgar meus órgãos, espalhar meu sangue no chão. Tudo ficou escuro. Algo saia de mim. Saia com violência. Era uma dor que me fazia ver com claridade o céu e o inferno. Deus sorria e o Diabo fechava a cara. Eu não aguentava mais, porém aquilo saia de dentro de mim. Resolvi olhar. Resolvi vencer meu medo. Meu medo queria me matar. Não queria me deixar viver bem. Ele queria estraçalhar tudo de bom que eu tinha dentro de mim. Ele parecia legal, como um anjo. Mas era um anjo mau. Aquele anjo não me salvava dos males da vida. Aquele anjo me afogava na tristeza dela. Eu não aguentava mais. Eu tinha que vencê-lo, mesmo podendo perder a vida. 
De repente vi sair de dentro de mim a raiva, o ódio, a impaciência, o pessimismo, a ansiedade, a grosseria, a falta de gentileza e principalmente, a amargura. Parecia ter dado a luz, só que estava eliminando as trevas. Eliminando tudo que tinha complicado a minha vida, a tudo que tinha me barrado de ter dias melhores, de tudo que não me permitia ser quem eu era. Dei a luz a tudo aquilo que não atrapalhava a oportunidade de ter uma vida feliz só a mim, mas a muitas pessoas que cultivavam medo em seus corações. Encostei a cabeça no meu travesseiro e tudo girou. Vi escurecer, mas já não endoideci, apenas fechei os olhos para receber minha sentença por tantos anos de covardia. Sorri, pois não teria mais que aguentar a dor diária e o sofrimento repentino. Esperei a morte vir me buscar. Não lembro como aconteceu, mas apaguei. Tinha certeza. Estava morta. 

[...]

Foi assim que eu me senti no dia que eu resolvi não deixar o medo me atrapalhar mais, sabe? Eu sinto que me dei uma nova chance para recomeçar. Eu me sinto uma nova pessoa, mais leve, mais paciente. Eu me sinto apenas mais feliz. Acho que a felicidade achou a minha vida e resolveu ficar comigo quando tomei essa decisão. Machuca, pois ele não quer sair e é por isso que nessa hora, por mais que não tenhas força, seja forte. É a única alternativa que você tem. Não, continuo sem acreditar em algo divino, mas eu realmente acredito que todo mundo tem a chance de ser feliz. Basta vencer o medo. O medo me prendeu, mas resolvi tira-lo da minha vida. Ele estava me matando... a vida vale muito mais que medos tão bobos e estou disposta a viver tudo que eu puder. Que venha tristeza e que venha o que a vida tem de ruim. Eu sou forte. Talvez eu até saiba amar e não estou disposta a perder essa tal felicidade de novo. - Maria, 20 anos. Uma pessoa que se deu uma chance de recomeçar.


* A foto foi tirada por um fotógrafo experimental que vive em Hong Kong. Essa é a página do profissional: http://a-dinosawr-rawrs.deviantart.com/
* The photo was taken by a-dinosawr-rawrs. This person is an Experimental Photographer. You can visit his/ her page here: http://a-dinosawr-rawrs.deviantart.com/

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Frase do dia

As pessoas são livres e seus corações também. São responsáveis exclusivamente por suas respectivas felicidades, porém continuam jogando elas em mãos alheias. Posso estar errada, mas às vezes, acho que o ser humano curte uma pontada de dor no peito esquerdo.











domingo, 15 de janeiro de 2012

Coisas do século XXI: Não quer, doe!


"Eu posso amar com todo coração, amor. Eu sei que eu tenho muito para dar [...]" - Jojo

Para que tanto, Jojo? Foi por isso que você sumiu e não dá notícia desde 2008, não é mesmo? Ou seria culpa da Umbrella da Rihanna? Afinal, ela disse que ele poderia ficar sob o guarda-chuva dela. Anyway, que maldita frase numa música de ritmo legal. Muito amor para o coração de dezesseis anos¹. 

Desde 2000 e alguma coisa que vemos uma parte dos jovens morrendo  por dentro e jurando perder uma parte crucial do corpo humano que bombeia o nosso sangue, o coração. Por que os jovens não percebem que o coração é órgão cego e não se apaixona por ninguém? Vai arrancar o pobre para que? Se não o que, doe. Tem gente na fila de transplante querendo viver. Você sabia? Pois agora saiba. E para que cortar os pulsos e postar no Tumblr.com? Tem gente precisando de sangue.  Ao invés de usar tesoura e afins para tal alto, doe sangue. Salvará vidas. Não cegue seus olhos para não ver o ou a infeliz, doe as córneas. Meninas, não brigue por meninos no meio da rua, sua vida NÃO É UM TEATRO. Sua vida não é um espetáculo. Sua vida, é que a pessoa que escreve diz: é sua. Para de compartilhar frases kibadas, tristezas sem razão? Sua vida vale muito mais a pena que tristeza coletiva: tristeza que todo mundo tem agora. Não se culpe. O século XXI veio sem noção do que quer mesmo. 





¹A cantora americana Jojo tinha dezesseis anos quando a música Too little too late fez sucesso no mundo em 2006. 

Acho melhor ser eu, mesmo sendo chata desse jeito.

Estou ficando velha. Não preciso de fotos de desenhos, brinquedos, brincadeiras ou objetos do passado para perceber isso. Todo 9 de junho eu ganho mais um número na minha idade. Nessa vida que tenho, percebi o quanto eu mudei. Mudei bastante. Mudei conceitos, mudei as ideias que tinha, mudei as visões que possuía, mudei a maneira de ver a vida. Eu fui uma criança sonhadora, chata, boba, que aceitava tudo, que fazia tudo que muitos queriam. Fui do tipo de criança que fazia para agradar. Quantas vezes eu mudei a estação da rádio, ou a cor do short do dia para ser aceita? Que erro. Eu não percebia. Eu não via que a melhor maneira de ser aceita, era apenas sendo eu mesma. Sendo essa pessoa que hoje escreve esse texto. A pessoa que não aceita e fala o que pensa, que se mete naquilo que acha que deve, que canta o que quer, que escuta o que gosta, que usa o que lhe cai bem, que lê o que acha melhor, que pensa da maneira mais liberta possível.

Para que ser do jeito que eles querem, se nem eles mesmo sabem o que querem? Antes sonhadora, comunicativa, fechada, simpática, perfeccionista, leitora, falante, intrometida, seja lá o que for, do que idiota, energúmena, esnobe, mau caráter, mentirosa, odiada por ser uma perfeita pateta. Não se dê ao trabalho de responder pessoas esdrúxulas, não se dê ao trabalho de vestir o que eles querem. Pessoas idiotas e falsas não sabem o que querem da vida, por isso vivem procurando motivo para rir e apontar os defeitos dos outros. A razão é o medo. O medo de ver o tamanho da falta de vergonha na cara e a falta de caráter que nunca tiveram e nunca terão.

Pensamento do dia

Eu sempre me senti como o Pequeno Príncipe. De planeta em planeta, à procura de um mundo diferente do meu mundo egoísta. Pensava que existia uma resposta doce para cada perguntava que tinha. Eu me enganei. Nessa longa viagem descobri que eu era o piloto da história e que tudo que eu achava que era certo, na verdade não passava de uma ilusão e que eu ainda precisava viajar muito para saber o sentido daquilo que eu chamo de vida.  

Parte 1: Nada comum. Eu não aguento mais.

Almoço comum numa semana comum numa vida nada comum.

- Anda. Faça isso. O filho do Heitor da padaria fez e veja só em que ponto aquele moleque magricela chegou? Presidente de um lugar não é para qualquer um, não. Você tem que fazer o mesmo...
- Seu pai está certo. E vamos. Se arrume. Faça aquilo que eu disse no cabelo. Vai ficar bem parecido com o penteado da moça que eu te falei semana passada. E se veste daquele jeito que eu te falei, filha.

Resumindo anos....

O silêncio era a única forma de resposta de Poliana naquele momento. Em seus vinte anos de vida, as pessoas tinham lhe dito o que era melhor para ela sem nem ao menos perguntar se era o que ela pensava. 
Seu irmão tinha tudo que gostaria de ter. Tinha liberdade. Estudava a faculdade que queria. Ninguém dava a ela todas as possibilidades de se sentir bem. Tudo que Poliana conseguia era ficar chateada. Na escola, nunca fora aceita como era. Em seis anos sofrera todo tipo de brincadeira maldosa que nenhuma criança gostaria de sofrer. Por ser ruiva, magra e muito pálida, sofrera e muito. Não compreendia a maldade de seus colegas. Nunca fizera nada de ruim para ninguém na sua vida, mas a vida resolveu brincar com ela de uma forma que ela não tinha força para aguentar e as tais brincadeiras machucavam até a alma. Eram ofensas, palavras que machucavam mais do que uma boa surra de arrame.

Foi crescendo. Ignorando aquelas palavras que se tornaram cicatrizes em seu coração.Observava, mas não preferia falar. O silêncio tinha se tornado seu companheiro. Não tinha amigos. Passava uma boa parte de sua vida lendo, vendo séries, desenhando e criando comerciais e programas de TV. Guardava tudo que fazia, pois acreditava que um dia tudo aquilo lhe seria útil. Quando menor, escrevia sua angustias em cadernos. Poesias, canções, toda forma que pudesse amenizar a dor que sentia e sabia que jamais seria esquecida por mais cimento que colocasse em cima. No ensino médio, todo mundo parecia querer muda-la.
- Vista-se assim. Você tem 15 anos e se veste como uma garotinha de 13 anos.
Quantas vezes tinha escutado:
- Coloque uma calça mais apertada. Vai valorizar você. Vou te comprar uma.
- Faça escova no cabelo. Passe rímel nos olhos e gloss na boca. Vai ficar tão bem.
Poliana não queria isso tudo na vida. Estava satisfeita em ser a primeira da sua turma e se vestir com calça jeans que não apertava o juíza e camisetas com infirmações. Adorava seu cabelo cacheado e cheio preso. Gostava do jeito que se vestia e não queria ser o centro das atenções. No antigo colégio era o alvo do deboche, agora só queria ficar no seu canto, sozinha. Nunca tinha chamada atenção de garoto nenhum, a não ser para ser alvo de piadinhas. Seus fones de ouvido e seus livros eram seus maiores companheiros. Estavam onde Poliana estava. A libertavam de um mundo medíocre o qual achava que jamais seria feliz. Era dolorido pensar isso, mas ninguém nunca lhe mostrara o contrário.

Conversava com o cão. Passava horas dizendo como se sentia. Borges era o única que a ouvia sem demonstrar tédio ou impaciência. Sentava ao seu lado e ficava lá, até a dona retirar toda a dor que tinha dentro de si:

- Eu nunca quis ser assim. Sempre fui do tipo que esperava tudo mudar, sabe? Eu nunca pedi para que tais coisas acontecessem. Eu sempre quis ser normal como os outros. Às vezes, me pergunto, o que eu fiz para merecer tanto sofrimento e tanta dor. Até hoje não tive resposta. Até hoje não tive mudança. A mudança que sonhei e sonho desde sempre. Será que mereço isso? Será que eu fui uma muquirana desgraçada no passado e agora estou pagando no presente? Por que as pessoas querem me mudar? Por que as pessoas querem que eu seja de um forma? Eu me sinto tão feliz sendo assim. Gosto de fazer as coisas que trazem paz ao meu coração. Gosto de criar textos, desenhos, gosto de fazer esse tipo de arte. Gosto de vestir essas roupas. Gosto de conversar sobre tais assuntos. Não gosto do meu cabelo desse jeito, mas veja só ele, Borges? Olha o tamanho dele. Ele dá trabalho. E sou uma alma em forma de humano. Dá trabalho dar vida a esse ser sem vida que eu sou. Por que eu não posso ser do jeito que eu sou? Por que as pessoas insistem em me machucar e me dizer que meus planos não vão dar certo? Que eu não serei alguém? Eu deveria acreditar em mim. Eu sei que devo, mas tudo isso me chateia tanto... Por que eu não posso ser feliz?

Continua...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Hoje no Circo tem

Todo Circo tem seu final de espetáculo: as luzes se apagam, as cortinas se fecham, a plateia desce e as risadas se sessam. Artistas de volta para o picadeiro da dor e da solidão ao som do jazz que já não segura a verdade escondida e aos goles da bebida que não curam as feridas. As lágrimas dos palhaços que vem no colorido do circo montado uma razão para querer voltar no passado e desistir da ideia de ser artista de Circo. Como praguejam um dia ter visto as cores da vida nas cores do circo.
- É, Zé. Vida de circo é vida de condenado. 
Há sempre o esperançoso. 
- Que isso, João. Há muito mais cor na metafisica do atuar, do entreter, do sorrir e do fazer.
- Guarde sua metafísica, meu caro. Os tempos mudaram e as crianças são outras. Pagam uma fortuna para ver os espetáculos de Circos famosos, mas ao passarem por um simples local como o de um circo como esse nas ruas, sentem nojo e até riem de nossas condições externas. Olhe para nós? O que somos? Desgraçados lutando por miseras piadas, piadas que já não trazem alegria ao lar de ninguém. As pessoas que vem até nós, vem por falta de opção, meu caro. Não estão aqui para se satisfazer com a alegria de um circo, mas por não ter opção nessa cidade de miseráveis. Acho que até um circo de horrores faria mais sucesso que esse pocilga. Ninguém quer circos. A vida é diariamente um circo na vida  de qualquer um.
- Meu amigo, falas isso por estar bêbado!
- Não. Falo por que um dia larguei minha vida de moleque do interior que até tinha a possibilidade de ir estudar para ser doutor para me aventurar de cidade em cidade ao som e as cores do Circo que um dia trouxe muita alegria para muita gente. Veja só? O que somos? Pobres miseráveis. Vagabundos para muitos. Maus exemplos. 
- João, falas de uma forma que me deixa assustado.
- Zé, falo apenas a verdade. As pessoas vivem o que vivemos. Tentam rir para esconder a tristeza, usam maquiagem para esconder a dor e tentam fazer das palavras piadas para afastar a solidão e o desespero. Elas pensam que é como um circo, mas nem o circo é feito apenas de alegria. É feito com tudo que a vida pode transbordar em cima de nós. Assim é a vida, Zé. Diariamente, ela transborda tudo que a gente pode viver, mas que nós não podemos segurar. É colorida, risonha, banal e tristonha. Essa é a vida. Vida de Circo, vida vivida. 
Zé engoliu aquelas palavras e foi para fora pensar. Sentando numa pedra em alguma praça daquela cidade que não sabia o nome, se perguntava:
Que sentindo sua vida teria se não fosse assim?
Olhou para os lados, olhou para o céu. Viu estrelas e teve a certeza que não poderia voltar e continuar mentindo para si mesmo só trazia mais dor e angustia. Percebeu que a vida que sonhara tinha ficado no começo da vida que vivia e que não poderia fazer mais nada até o fim de seus dias. Era um miserável do circo, era um miserável da vida. Machucava pensar que não teria outra saída, mas machucava mais ter mentido por tanto tempo na sua vida e forjado por tantos anos de sua vida um sorriso sem significado e uma risada sem harmonia. 

Frase do dia

Tentar outra vez nunca é demais. Basta tentar de novo. Porém tente por aquilo que vale a pena. E não por um capricho infantil, afinal crianças crescem um dia. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sobre o Blog.

Apesar de ter conhecimento sobre o universo dos Blog's e o quão difícil é tentar tornar  um, um sucesso, pela décima vez, eu tento. Tentar outra vez nunca é demais. Basta tentar de novo. Porém é muito difícil. Escrever algo coeso e coerente, acessível a todos e que atraia todo tipo de público é realmente chato, pois no começo nada parece dar certo. Tantas tentativas e o barco parece naufragar o tempo todo. Tantos temas escolhidos, textos revisados, tentativas de atração, tudo indo pelo ralo. Dessa vez, vou tentar não fazer dessa forma, mas fazer da forma que todo mundo gosta. Tentarei englobar todos os temas para todos os públicos. Ainda não sei sobre o que irei falar, mas nada melhor como o tempo para me mostrar. Let's go que esse ano nem começou.